A fila nossa de cada dia.

Qual é a tua fila?

Refiro-me a Creche, Escola, SUS, Justiça, INSS, Congestionamento, Moradia, Metrô, Ônibus, Desemprego, Aposentadoria, Penitenciária, Sopa nas madrugadas frias de São Paulo? 

Qual é a tua fila?

São tantas que se houvesse fila para exigir respeito muitos estariam nela por incrível que pareça.

 

Podemos atribuir essa fixação o status de politica publica. Todavia, para o cidadão, que trabalha e estuda; afirmando sua fé no futuro, pagando impostos exorbitantes a situação significa admitir também o próprio fracasso. Um vexame.

Se pelo menos, a situação fosse compartilhada por todos, de agentes públicos a privados, pobre e ricos, seríamos lideres na pavimentação de um caminho possível para o amanhã entendendo não haver maiores problemas. Ocorre que esse, não é o caso.


A falta de clareza está vinculada a multiplicidade de discursos desconexos dentre os quais, eu destaco a bizarra ideia, de que democracia por hora seria uma relação politica destinada aos desfavorecidos. Portanto, a cruel realidade é uma ilusão robusta mantida pelo governo como se o fracasso ou sucesso da nação brasileira dependesse exclusivamente da somatória de esforços individuais.

Independente da vontade, ideologia ou credo, imbecis bem formados se prestam a esse tipo de serviço proclamando um de manual de sobrevivência para quem quer prosperar na barbárie, "quando iremos tomar consciência disso?" 

Entendo que muitos chegarão a lucidez ao acaso, inesperadamente naquela hora imprópria. Quando a realidade o solicitar. No momento em que mamãe, papai, ou filho não estiverem bem e passar horas perambulando pela madrugada de hospital em hospital sem encontrar atendimento. Observando em cada esquina a multiplicação silenciosa das filas. Então será tarde demais.

Neste momento o que estava subentendido no discurso ideológico, democraciadireita e esquerda, vem a tona com virulência e começa a fazer sentido:

Nas contas atrasadas; nos financiamentos da casa própria, no financiamento do carro, não só, no saldo devedor, nos juros exorbitantes do cartão, do empréstimo consignado, nos agiotas, nas multas que se avolumam, nos impostos atrasados, nas pedaladas no condomínio, nas mensalidades da escolinha, no plano de saúde.

No malabarismo insano, somos confrontados com eficiência, eficacia e aumento de produtividade, então, a ideia de sucesso é produzida pelos queridinhos da Forbes, na Globonews, no Manhattan Connection, porta vozes dos imbecis, ricos e famosos. Fracassamos.

Enquanto esse tipo de lucidez operar no seio da sociedade estaremos excluídos. O fracasso, embora venha carregado de desalentadora previsibilidade, é assimilada pela sociedade em geral como se fosse incompetência individual. Avaliada pela régua do desempenho, a classe média se mantém no fio da navalha.

Alice no País das Maravilhas a revelia de Lewis Carrol, fomos transportados para um lugar fantástico povoado por criaturas bizarras e antropomórficas, revelando a lógica do absurdo, não caracterizado por sonhos, mas pelo pesadelo de uma guerra sem fim, sem o minimo necessário em saúde, educação, transporte ou segurança. Não percebemos que o conto de fadas promovido pela antidemocracia econômica, é ante sala da erosão social.

Paradoxalmente, governar se resume a corte de gastos, a produção de superávit primário, combustível para corrupção e enriquecimento ilícito, coisas de quem explora saúde e educação publicas. 


Negar a presença do infortúnio apegados a esperança por dias melhores são estratégias na antidemocracia. Por ingenuidade ou temor, as pessoas creem poder se reinventar aos domingos na avenida Paulista. Quando casais, vovó e vovô, marcam presença, bandeiras em punho esperam fazer o suficiente para amolecer o 'coração' de crápulas de sempre e quem sabe produzir mudança de relação; Menos perversas para todos nós.

Mas, falemos do sucesso!!! A nossa democracia também produz homens de sucesso, geralmente banqueiros, donos de alambiques e açougueiros. Talvez esse seja o motivo para tolerarmos a nova classe de empreendedores sociais.

Então ao homem devoto as ordens do mercado, especular sobre o fracasso daqueles que vão se avolumando nas ruas, sem trabalho, sem moradia, comida, saúde, educação é uma dadiva. O empreendedorismo social é portanto a possibilidade de ascender. A realidade perversa neste conto de fadas, chamado antidemocracia, sem voto distrital puro e financiamento publico.

Afinal, qual seria o motivo para o expressivo aumento de fracassados na 8° economia global, a medida que uma pequeníssima parcela de 0,05% da população, 'os homens de sucesso' prosperam e concentrando poder político, além de 22,7% da riqueza nacional e 14% da renda total? Diante disso, como se explica que os 3% mais ricos devem 2 Trilhões ao Tesouro e as maiores empresas 1,5 Trilhões ao CARF?

Sem respostas, ideólogos, filósofos e eruditos. Profetas do gato morto infestam a mente dos incautos que saem feito imbecis pelas ruas batendo panelas, gritando pela avenida Paulista de baixo a cima e voltam cantando o hino nacional como se estivem possuídos pelo demônio. Pra quê? Se estamos afundando em direção a assistência social?

Para que lá no fundo do poço, deletemos o fracasso coletivo e nos apeguemos de vez a fé. Ao invés de exigirmos respeito corajosamente, a massa vai preferir bater panelas e orar, antes de assumirem a dila silenciosamente.

A personificação da estupidez, finalmente vai aderir a visitas monitoradas aos 'menos favorecidos' com naturalidade. Promovendo Simba Safáris a zona dos excluídos evitarão o futuro. São essas as realidades presentes da humilhação coletiva, que a cada dois anos aparecem com esperança renovada, então brincamos de democracia e escolhemos os novos corruptos. Deus seja louvado.

Segundo Woodrow Wilson, o melhor que há a fazer com algo que está torto é ergue-lo bem à vista e coloca-lo onde todo mundo possa ver que está torto. Aí, ou a coisa se 'endireita' ou some de vez.

Portanto a somatória de humilhações as quais tenho vergonha de compartilhar e que a maioria nem se dá conta, fazem necessárias a exposição. Tal como fizeram em junho de 2013, sobretudo com coragem, dignidade e orgulho. Não foi pelos R$ 0,20, mas poderia, porque motivos não faltam para agressão.


Claudemir Sereno

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