Poesia da irremediável tristeza: Luto


                                    


  Em memória de Satan * 16/01/2000 + 18/10/2016








Luto hora imprópria que não vence, morada impossível que me habita. No silêncio da casa pelas manhãs, o coração puro não bate mais. Aqui, a solidão é o chão que eu piso, as coisas que eu faço, o agora. Nesta grande casa, feita de pequenas coisas acuso desvairado a sua presença. Fustiga-me o senso, intenso o brilho que o olhar cruza. Reclusa, nebulosa lucidez errante em face de sombrio espelho se desfaz. Extinto o tempo, insisto. Tu que me conheces tão bem, onde estás? Hesito. Atormentado o chamo pelo nome, o esconderijo preferido e puxo a conversa de todas as horas. O silêncio comunica-me a loucura. Caio no abismo do tempo e saio porta afora. Volto, trago pães e imagens do destino, ando pela casa, faço café, bebo e choro. Rabisco impressões; Dissolve o sal, dissolve a forma, a primavera da vida, as ilusões e as relações. Choro a lagrima invisível, o abraço perdido, o beijo guardado, os afetos... Foi-se o querido amigo. Assenta-se a terra úmida, mármore frio as cinzas. Sentidos para desesperança. Fica a memória, as sensações, os gestos pueris, os ensinamentos, as declarações de alegria, o ultimo olhar, o adeus! Testemunho da verdade indizível, que ressoa e eleva à alma; da dimensão fútil do homem banal a atmosfera incomum, sublime do nobre amigo. As margens da caudalosa vida, que corre apressada para foz; declaro-me órfão. 



Claudemir Sereno

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