Saudável doença: O discurso do poder para uma sociedade doente.

“A gente tem que dar um sentido que transcenda a triste realidade, porque se utilizarmos simplesmente os instrumentos colocados sairemos perdedores deste jogo."Falo sobre as condições indignas do serviço público de saúde, veiculadas "novamente" no Fantástico, da Rede Globo. As quais sistematicamente oscilam entre denúncias de corrupção e falta de gestão. Ou, entre, a falta de médicos e a falta de remédios. Ora isso, ora aquilo. 

Entretanto, a corrupção não é consequência do caos, como sugere as reportagens, ao contrário, o caos é esconderijo da corrupção política. Daí, jogarem com imaginação da sociedade a todo instante, sem revelar o que escondem, isto é, a convicção na arte de manipular. Assim, o caos surge nas ilhas de edição da mídia e as denúncias inequivocamente omitem, a verdade, somos reféns de grupos interesses! O monopólio da comunicação jamais gera esclarecimento, busca, ao invés, apaziguamento e a conformidade da sociedade, Tanto que reprisam a cada edição esse descalabro contra a sociedade, dando a entender que isso, nunca vai mudar. É processo.

Portanto, eis o instrumento pelo qual se valem os saqueadores do erário publico: a mídia. Nela sim, está impresso o método para manutenção do poder corruptor. Embora, esconda a repetição maquiavélica, eu pretendo revela-la, a partir da analise de um relatório da OMS sobre o Brasil. Para finalmente questionar: Apesar de trocarmos pessoas e governos, o problema continua sendo replicado em nosso país.

O que diz o relatório da OMS - Organização Mundial de Saúde do primeiro trimestre deste ano (2010). Nele o Brasil é citado, o país que tem o dobro de médicos (aprox. 400 mil profissionais médicos) que necessita para atender sua população sendo que, 70% deles estão no serviço público de saúde (SUS) (aprox. 280 mil). 

Inicialmente, o relatório indica que o serviço público tem um superavit de Recursos humanos, da ordem de 80 mil médicos! Jamais, o déficit que repetem a exaustão. Além disso consta no relatório, o Brasil possui o triplo de farmácias! Quem diz isso: A OMS. Mas, como?


Acrescente-se, expansão absurda das faculdades de medicina. Dobramos o numero de instituições em apenas 10 anos! Aliás, extremamente caras. Para termos uma ideia, se compararmos: Curso de medicina na Argentina, a mensalidade está em torno de 800 pesos, ou seja, 400 reais em média. Por quê?

Ora, a população da Argentina é mais saudável! E, o profissional médico local, tem apenas importância relativa, não é super-herói, aliás, como a mídia tenta provar todas as manhãs, a todo instante no decorrer dos dias. Por quê?

Quem se detiver nessa análise e no conjunto de evidências, encontrará uma tese profunda que sustenta, a expansão monstruosa da doença. E, a medida que a situação se agrava, aumenta a presença de médicos no Senado, titulares ou suplentes, na Câmara do Deputados, Governadores de Estado, Prefeitos de importantes municípios, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais em desvios de função, ocupando cargos no Executivo, Legislativo e Judiciário. 

Portanto, a medida que essa situação caótica se configura "sustentada na mídia" a sociedade se vê diante do paradoxo: Quanto mais médicos na politica, menos saúde para a população. Qual o sentido disso?

De tudo compreende-se que, a assimetria que, estrutura a relação medico-paciente, revela a existência de um fosso entre ambos. Em outras palavras, isso serve apenas para distingui-los em um novo formato de coronelismo, que sedimenta o (bio) poder, vinculando uns, aos grupos de interesses especiais (lobby) e outros ao que fizeram do SUS. Eis o muro invisível que emerge separando explorados e exploradores.

Pouco importa, se os próprios sofrem no serviço publico (aqueles que trabalham!) porque, ao mesmo tempo, são reféns em suas demandas classistas, também são cúmplices da atividade corporativista, insustentável, que vai esmagando a todos. 

Talvez, o solipsismo neoliberal impeça de enxergarem a tragédia para onde estamos sendo conduzidos por lideres políticos egressos da melhores faculdades de medicina. 

Contudo, inerente a todo ser humano a angustia deles também se manifesta, quando de minhas visitas aos hospitais, comentam em off, "Alemão, a gente está secando gelo!" 

Então, de bate pronto, eu respondo, prevendo o futuro - "Doutores não se enganem, porque na hora que os senhores pegarem seus carros e retornarem para suas belas casas, levarão consigo, o que há de pior nessa relação com o usuário. Cuidado, pois ninguém saíra imune dessa situação!"

Claudemir Sereno

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poesia da irremediável tristeza: Luto

Sem Planejamento Familiar e dados consistentes sobre Causa Mortis:

Realmente, o Brasil do Império foi mais bem frequentado.