Enquanto ouvia Richard Wagner ...


O celular começou a vibrar insistentemente... Era mais uma sessão de discurso de ódio retransmitido pela enésima vez via WhatsApp. Todavia nesse dia resolvi dar um basta e chamar atenção do meu amigo por difundir opinião tão infecciosa.

Primeiro, porque ele é judeu, já foi vitima desse tipo de coisa e sabia do que eu estava falando. Segundo, tenho um bom relacionamento com pessoas, independente de suas opções ideológicas e sobretudo porque sabia que por detrás de quem privilegiou disseminar esse tipo de infâmia batia um coração sensível.

Mas, nem por isso deixei de me questionar, onde estaria aquela pessoa sensata, coerente e amável que eu conhecia no ato de me expor a imagens terríveis?

E foi pensando nele que resolvi escrever.

O impulso que levou as pessoas às ruas pós 2013 não reforçou a democracia. Querem fazer crer o contrario, mas foi mera ilusão. Querem fazer crer, embora a ruptura seja evidente. 

Perceba, a partir de 2014 acomodaram-se os semelhantes no Congresso, quanto mais distantes estivessem do mundo das pessoas reais. Isolados, se aproximaram de institutos de pesquisas para conhecer melhor as reações, às fúrias, os desejos e por onde melhor se aproximar, mantendo-se distantes. E dessa forma tocar no que é intratável ou meigo para adquirir conhecimento necessário desse estranho animal enfurecido e para o qual se apresentavam feito representantes políticos.

Porém, esta inclinação à manipulação trouxe consequências desagradáveis como sempre, especialmente para os mais pobres. Ou seja, a totalidade da população brasileira. Este processo esteve sob a responsabilidade do monopólio da informação no Brasil. A claque carioca-Globo feito um show de horrores começou transmitindo o falso otimismo para 'afagar' o poder com uma estranha combinação de elementos.

Iniciamos 2017 com imagens de decapitações em série, futebol, AMBEV, mortes suspeitas de agentes públicos, ITAÚ, corrupção insuspeita, COCA-COLA, eficiência e eficácia. Recheadas pelo espetáculo, reforma da previdência patrocinada pela rede Mapfre de televisão. 

Irmanados no grande objetivo, contemplar à pobreza endêmica em forma de farsa mostrando o caminho do progresso pelo trabalho. Gente escorada no Estado, vivendo em Miami e Portugal discorrendo sobre o tal ganho de produtividade. Sem saúde, educação e previdência. Enquanto o país estava sendo saqueado.

Nesse aspecto a claque foi eficiente ao ponto de alterar a consciência do povo sob sua própria condição, tempo suficiente para o poder afastar-se da causa do desconforto da sociedade. Esse comportamento altamente regulador visava uma comunidade social imaginada mas nunca constituída. Tolerância espúria, forma refinada de crime que induz a dependência psicológica e exclui o cidadão, quanto maior for sua adesão e esforço de participação politica. Até o ponto de sentir vergonha de si mesmo.

Em resumo a democracia de mercado reduziu a política a mero produto de consumo. Produto tóxico. Logo, não é verdade que a participação da sociedade na vida política vá melhora-la. Nesse ambiente comprometido e comprometedor, o máximo a atingir seria uma distorção de valores. Isto é, a metáfora para servidão voluntária, efeito deletério sobre o qual meu amigo foi submetido.

Mas nada disso importa, enquanto a claque carioca-Globo estiver sozinha frente a edição da corrupção e posicionamento de lideranças. Enquanto isso, personagens serão divididos entre bons e maus. Os bons terão suas pequenas vitorias bem repercutidas por ela e, os grandes massacres sociais perpetrados pelos maus simplesmente serão ignorados.

Disso compreende-se que estamos ganhando quando em verdade somos incapazes de imaginar aonde chegamos.

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