SUS: Igualdade formal, desigualdade verdadeira.

trocar algumas palavras, com você, caro leitor.
Podemos dizer que é sintomático o grau de decomposição do sistema político, como se os diferentes casos de corrupção, de injustiça e de humilhação na saúde se fundissem na percepção de um mal comum, e atingisse a todos.
Em outras palavras, quero falar da crescente massificação de doenças crônicas e infectocontagiosas que nos atinge.
Em um país como o Brasil, assolado por cartéis, faz todo sentido a doença ser interpretada como estratégia de poder, baseada na corrupção. Por isso, o Câncer, a Hepatite C, a AIDS e a Infecção Hospitalar, entre outras doenças serão tratadas por mim, evidências da corrupção na Saúde Pública!
Logo, não podemos continuar acreditando que a falta de escrúpulos de nossa classe política também poderia ser obra Deus, não é mesmo?
Para a União bastou reduzir drasticamente a sua participação no financiamento do Sistema (de 60% para 40%) no período de 2003/12. Sem nenhum pudor, ninguém se manifestou a respeito e silêncio foi de tal grandeza, que sugiro um possível acordo entre governo e oposição, já que estamos falando nos interesses do terceiro mercado mundial, o de Saúde.
Interessante notar que a época, tanto o Ministro da Fazenda, como o Chefe da Casa Civil, o Líder do Governo na Câmara, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Líder do Governo no Senado e o Presidente do Senado, eram todos médicos!
Coincidência, não? Eleitos, sobretudo, para exercerem o sagrado compromisso, a defesa da saúde. Resta-nos saber, saúde de quem?
Para termos uma ideia fraca durante o período, de pouco mais de uma década a Amil encontrou ambiente favorável para crescer, responsável para adesão de 45 milhões de pessoas aos planos de saúde. Assim, a Amil tornou-se quarta maior empresa de saúde do mundo, em seguida vendida para o grupo americano UnitedHealth.
Há de se considerar que a drástica redução do financiamento a saúde pública foi responsável pela crescente medicalização da sociedade de forma assustadora. A partir de 2007 o déficit no setor fármaco-químico explodiu e, todos os participantes da cadeia produtiva deste mercado foram beneficiados com a barbárie que se instalou no Brasil. Em virtude disso, a população adoeceu e tornou-se refém de quem a explora. Quer dizer, na esperança de ter uma demanda pessoal atendida, compromete-se a votar neste Lobby, acreditando com isso melhorar a saúde pública. Hoje, o SUS é o maior comprador de remédios do mundo!!!

Finalmente, ou superamos essa infantilidade primitiva nas relações políticas e sociais, ou assumimos de vez a doença como traço essencial na formação das novas gerações de brasileiros e debitamos a tragédia enunciada, na conta de Deus.
Claudemir Sereno
Conselheiro Municipal de Saúde de São Paulo. Membro da Comissão de Orçamento e Finanças da SMS SP. Ex-Membro da Executiva do Núcleo de Saúde do PSDB. Participou da elaboração do Programa de Governo de José Serra para Secretária Estadual de Saúde. Delegado Titular por São Paulo nas 3 últimas Conferências Nacionais de Saúde. Atualmente é o Representante de Pais de Alunos da Região Leste de São Paulo no CONAE2014.
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