Sandrinho

Disse, espere aqui, você não precisa vê-lo. Eu o reconhecerei, guarde-o na memória.

E segui para o calvário. Contornei o rabecão, mais três passos, oração e silêncio. Sensação estranha. Caminhei ao seu encontro, desci as profundezas. Respeito. Em instantes, o destino seria revelado. Sinais.

Finalmente quando o vi, não havia lágrima, apenas amargor. Convicto me entreguei ao Sagrado. Luz, diante de mim, o pequeno corpo, maltratado pelas circunstâncias, representava o desfecho trágico do tempo, resignado, me fiz olhos. Vácuo, sem som, sem palavras, ligado a Ele, meio-vivo, meio-morto: 

Então,
Derrubei pesado
O meu olhar cansado
Sobre quem já não existia mais;
E, ele acomodou-se
Naquele breve hiato,
Entre vidas díspares.
Acolhi a dor
E o medo
Do desconhecido;
Do transitório.
Lamentei a descontinuidade do tempo,
Entre os meus...
Lamentei a descontinuidade da vida,
Embora, não minha
Mas contaminada pelos meus.
Imaginei,
Alucinei:
Que dor há de pesar mais,
Senão, a dor da verdade!
Que extrapola os limites da vida
E do encanto
Na breve história
Do Tempo!
Aprendi afinal,
Na lágrima desidratada.
A presença
Do vazio
Descanse em paz.
Claudemir Sereno

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